Cuidar da saúde mental é valorizar a vida

O mês de setembro tem sido palco, desde 2015, da campanha de prevenção ao suicídio e valorização da vida, o Setembro Amarelo. Um período dedicado à disseminação de informações relevantes que ajudem a conscientizar a população sobre a importância de cuidar da saúde mental.

Falar sobre saúde mental nunca foi tão importante. Tema delicado, alvo de muitos preconceitos e tabus no passado, vem ganhando cada vez mais visibilidade e espaço nas conversas do cotidiano, na mídia e na comunidade científica. Para falar sobre o assunto, conversamos com a psicóloga do Instituto Paulucci, Patrícia Calado. Confira a entrevista na íntegra, informe-se e cuide-se.

1. O que é saúde mental e por que ela tem se destacado atualmente no contexto da saúde?

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde  (OPAS)/ Organização Mundial de Saúde (OMS), “saúde mental é um estado de bem-estar no qual um indivíduo realiza suas próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e é capaz de fazer contribuições à sua comunidade”.

O avanço do conceito de saúde trouxe a importância de desenvolver práticas que foquem na saúde integral do sujeito, englobando portanto, a saúde mental.

Outro avanço importante tem sido as pesquisas e políticas de prevenção e promoção da saúde mental, diminuindo preconceitos e propondo discussões, políticas públicas e avanços científicos nesta área.

2. Que aspectos envolvem o cuidado com a saúde mental?

Cuidar da saúde mental passa pelo autoconhecimento; garantia de políticas públicas que resguardem os direitos humanos; manutenção da capacidade de se relacionar com o meio no qual está inserido; desenvolvimento de estratégias de prevenção e redução do estresse e; acesso a tratamentos em saúde mental.

3. Existem sinais que podem ajudar as pessoas a identificarem que elas devem dar mais atenção à saúde mental?

Os indicadores de comprometimento da saúde mental podem ser entendidos como respostas emocionais desproporcionais aos fatos vivenciados. Alguns sinais como dificuldades para estabelecer e manter relacionamentos interpessoais, consumo aumentado de álcool e outras substâncias, consumo aumentado de produtos, sentimento de tristeza, ansiedade, angústia e euforia por períodos prolongados, irritabilidade aumentada e frequente, podem ser indícios de uma saúde mental fragilizada e de que é preciso buscar ajuda.

4. Que fatores contribuem para que o indivíduo alcance o equilíbrio emocional?

A saúde mental é um objetivo a ser perseguido sempre e os fatores de proteção são subjetivos. Investir em atividades que promovam bem estar físico e mental tais como atividade física e meditação, manter relacionamentos interpessoais saudáveis e se conhecer de maneira a identificar padrões de respostas e reações que comumente adota são fatores importantes para manutenção da saúde mental.

5. Como as pessoas ao redor podem ajudar alguém que esteja passando por um processo terapêutico de cuidado com a saúde mental?

Apoiando sempre, incentivando a continuidade dos tratamentos, compreendendo que o adoecimento é circunstancial e que mesmo em um momento delicado e difícil, há partes muito boas que estão preservadas. Esse apoio é fundamental para fortalecimento da autoestima do indivíduo, para que se sinta acolhido e encorajado a manter o cuidado.

6. No contexto da assistência domiciliar, que aspectos são trabalhados com a pessoa cuidada e como a família para proporcionar esse cuidado emocional?

O paciente e seus familiares geralmente enfrentam momentos em que a vida planejada não se consolidou, ou necessitou de reformulação brusca e várias adaptações tornaram-se necessárias. Por vezes, percebem-se completamente impotentes frente à realidade vivenciada e sem perspectivas. Encontrar e construir possibilidades nestas situações é extremamente salutar, recobrar um pouco da autonomia sempre que possível também e até mesmo reestabelecer laços que foram transformados no processo de cuidar e ser cuidado são aspectos extremamente relevantes para a saúde individual e coletiva.